O derretimento do mercado – capitalistas em crise
Por todo o mundo as bolsas de valores estão quebrando enquanto escrevemos esse artigo. O colapso de quinta-feira da “Wall Street” reforçou a espiral descendente. As ações são vendidas à medida que os investidores desesperadamente tentam se livrar delas, quando a situação potencialmente catastrófica do capitalismo mundial se torna cada vez mais óbvia. O espectro da possibilidade de outra Grande Depressão, como a dos anos 30, espalha sua sombra profunda.
Essa liquidação não é simplesmente o resultado de pânico financeiro ou “vendas em descoberto”. Nouriel Roubini, o economista capitalista que alertou continuamente sobre essa crise, argumenta no artigo que publicamos em nosso site que agora há “uma severa recessão, uma severa crise financeira e uma severa crise bancária nas economias avançadas”. O chefe do FMI Dominique Strauss-Khan foi um pouco mais diplomático, dizendo que o mundo estava “a beira da recessão.” Como o CIO apontou antes, o capitalismo mundial agora enfrenta “uma cadeia de crises”.
Agora os mercados estão acertando o passo e os governos nacionais estão lutando para achar uma resposta às aparentemente incessantes notícias de crise e recessão financeira na economia. A reunião deste fim de semana do FMI/Banco Mundial em Washington verá tentativas de pelo menos pôr um freio nestes eventos, por uma combinação de ações estatais para assegurar as instituições financeiras e estimular as economias, mas isso de modo algum é certo. Mas está claro que mesmo se as bolsas se estabilizarem e mais colapsos financeiros forem evitados, é improvável que o mundo escape de uma aguda recessão mundial prolongada.
A velocidade com que a crise financeira capitalista mundial se desenvolveu nas últimas semanas é assustadora. Quase a cada dia, e mesmo a cada hora, há uma nova virada ou giro. Governo após governo está abandonando suas políticas anteriores. Os EUA e a Grã-Bretanha, antes os arqui “pró-mercados”, subitamente nacionalizaram ou parcialmente nacionalizaram bancos. Na Alemanha a grande coalizão teve que anunciar um adiamento de último minuto de sua privatização parcial das ferrovias. Esse é um período que combina com a descrição de Leon Trotsky de “uma época de súbitas mudanças e giros agudos”.
A votação do congresso americano na última semana a favor de um pacote de resgate de US$700 bilhões não encerrou a crise. Parece-se como um passado distante quando no último fim de semana a segunda maior companhia de hipotecas da Alemanha teve que ser resgatada pela segunda vez em 8 dias, encerrando uma semana que viu cinco outras grandes instituições financeiras nos EUA, Grã-Bretanha, Islândia e países do Benelux nacionalizados ou resgatados. Essa semana viu uma piora da situação e termina com crescentes relatórios de que os EUA estão se preparando para dar um massivo apoio estatal direto a seus bancos ou mesmo a nacionalizar alguns deles.
Já no início desta semana quase todo o sistema bancário da Grã-Bretanha chegou perto da beira do colapso, acionando um pacote de resgate do governo de 4/500 bilhões de libras (cerca de US$690/860 bilhões). E então o governo britânico usou leis anti-terrorismo para congelar os ativos britânicos de todas as companhias islandesas depois que o colapso dos bancos islandeses levou ao congelamento dos depósitos das autoridades e empresas britânicas neles.
Mas a crise financeira ainda se aprofundou, simbolizada nas contínuas quedas abruptas nas bolsas de valores, por medo de que a recessão mundial se torne mais concreta. Foi relatado que em agosto as exportações da Alemanha, o maior exportador do mundo, foram 2,5% menores comparadas com 2007.
Cada vez mais por todo o mundo acumulam-se os medos populares sobre o que a crise pode significar. Nos EUA também há uma profunda raiva com aqueles que são vistos como responsáveis pela crise e uma oposição amarga ao que é visto como o resgate de Wall Street (a rua em Nova Iorque que é o centro financeiro) em oposição à Main Street “rua principal” – o resto da economia). Sentimentos similares estão começando a se desenvolver na Grã-Bretanha com seu salva-vidas de banqueiros e na Alemanha com o resgate do banco imobiliário Hypo Real Estate. Em alguns outros países ainda há esperanças de que a piora irá passar ao largo deles, mas embora cada país seja diferente, é altamente improvável que qualquer país possa escapar totalmente do impacto de uma recessão mundial. As partes mais pobres da África, Ásia e América Latina já foram atingidas pelo disparar da inflação, especialmente nos preços dos alimentos e combustíveis, no início deste ano, e agora uma recessão pode significar mais deterioração nos padrões de vida, à medida que o preço de suas exportações cai.
Essa semana os temores de que a crise de solvência bancária ameace a economia capitalista foram enormemente fortalecidos. Uma indicação deste alarme foi a decisão do Federal Reserve dos EUA de 7 de outubro de financiar empréstimos diretamente às companhias americanas comuns comprando seus “papéis comerciais”, financiando-as de fato à medida que a crise de crédito ameaça cortar uma fonte chave de seu financiamento. À medida que o governo britânico agiu para apoiar, mas não tomar controle, de todo o sistema bancário da Grã-Bretanha ao comprar “ações preferenciais” e despejar dinheiro, os EUA, UE, China e Grã-Bretanha cortaram suas taxas de juros em 0.5%.
Contudo, essas medidas não estabilizaram imediatamente a crise financeira. O Secretário do Tesouro dos EUA Henry Paulson disse que esperava que mais empresas financeiras americanas colapsassem apesar do programa de resgate de US$ 700 bilhões. Mas mesmo se mais instituições financeiras eventualmente estabilizarem, essa crise já está impactando a economia mais ampla, a real. Quase simultaneamente com os cortes da taxa de juros veio o relatório do FMI alertando de que a “economia mundial está entrando em uma grande recessão em face do mais perigoso choque financeiro nos mercados financeiros maduros desde os anos 30.”
Os efeitos desta turbulência estão sendo vistos na economia real. Mais países, e mais recentemente a França, estão oficialmente entrando em recessão, segundo a definição dos economistas capitalistas de seis meses de declínio econômico. Nos EUA, um grande salto no desemprego foi divulgado semana passada. Demissões e suspensões do trabalho estão se espalhando, especialmente na indústria automobilística, como mostram os recentes exemplos europeus da Ford, Opel e Volvo.
Esse impacto não é acidental e não é simplesmente por causa do congelamento financeiro que a crise bancária produziu. Há fatores de mais longo prazo em ação que limitarão severamente a recuperação da próxima recessão. Parte da razão para essa emergência está na crescente dominação do capital financeiro dentro do capitalismo. Como o CIO argumentou consistentemente, isso resultou nos acordos financeiros e na especulação se tornando cada vez mais a principal fonte de lucros, não apenas para os bancos, mas também para muitas empresas nominalmente fabris ou comerciais. Na busca pelo lucro financeiro foram criados “instrumentos financeiros” cada vez mais exóticos. Na Islândia, os capitalistas levaram isso ao extremo. Contudo, está sendo abertamente revelado que muitos desses “investimentos” eram intrinsecamente supervalorizados ou mesmo sem valor, apesar da intrincada matemática sobre a qual se baseavam alguns deles.
A ‘criatividade” financeira é apenas uma parte dos atuais problemas do capitalismo. Mais fundamentalmente, temos visto nas últimas duas décadas uma crescente dependência de dívida e de crédito para financiar o consumo que era a força motora para o crescimento dos EUA, a maior economia do mundo. O capitalismo com frequência usa o crédito para aumentar o mercado, mas isso tem seus limites, e eventualmente tem que ser reembolsado. Mas desta vez, nas últimas duas décadas, ele foi usado a uma escala massiva, para se recuperar das crises, prolongar o crescimento e também superar os efeitos do ataque neoliberal quase universal aos padrões de vida. Embora em muitos países os salários reais ainda fossem comprimidos durante o boom, a dívida, o crédito e um aumento no número de mulheres trabalhando permitiu o a expansão do consumo das famílias.
O que quer que aconteça agora aos bancos e instituições financeiras individuais, está claro que aqueles dias temerários do crédito abastecendo as demandas exuberantes do consumidor estão acabados, pelo menos por um longo tempo, e com isso as taxas de crescimento mundiais relativamente altas dos últimos anos. A ilusão vendida nas últimas décadas de que o endividamento pode financiar uma boa vida está acabada; os futuros empréstimos serão mais limitados. Essa é a razão porque a esperança de “descolamento” de diferentes partes da economia mundial não está acontecendo. A crise de débitos e da habitação e a recessão em desenvolvimento já estão enfraquecendo os consumidores dos EUA, que respondem por mais de 30% do consumo privado mundial. A Europa Ocidental, com uma parcela de menos de 30%, não está em posição de absorver essa demanda, já que sua economia desacelerou abruptamente, com diferentes países enfrentando misturas individuais de queda da produção e crises financeiras e imobiliárias.
O fato de que essas duas regiões, que respondem por aproximadamente dois terços do consumo mundial já estão em recessão ou desacelerando rapidamente significa que há pouco espaço para outros países, incluindo os quatro países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), de fornecer uma demanda de mercado extra para substituir os EUA e a Europa. Por isso estamos vendo uma queda abrupta nos preços do petróleo e matérias primas, assim como nas tarifas de navegação, à medida que a demanda cai. Mesmo se uma depressão for evitada, é provável que, no melhor, depois de uma recessão a economia mundial ou estagnará ou crescerá muito lentamente, algo que será sentido por milhões como uma recessão.
Significativamente, essa crise abriu claras divisões entre os principais países imperialistas. De um lado tem havido exemplos de governos tentando trabalhar juntos, p.e. o corte coordenado na taxa de juros de 8 de outubro, mas simultaneamente também de cada classe capitalista agindo para defender a si e a seus próprios interesses. Na Europa, especialmente na Alemanha, já há uma campanha para culpar o capitalismo “anglo-saxão” por essa catástrofe, enquanto na Grã-Bretanha essa culpa é posta nos EUA.
Em 24 horas a tentativa do último fim de semana dos “quatro grandes” da União Européia (UE) de apresentar uma frente comum ruiu quando o governo alemão anunciou que salvaguardaria os depósitos nos bancos alemães, apenas dias após denunciar o governo irlandês por fazer uma coisa similar. Mas mesmo essa “garantia” da chanceler alemã Angela Merkel foi rapidamente diluída a um “compromisso político”, não uma exigência legal.
De fato, não tem havido uma política de resgate unificada na eurozona. Essa crise mostrou o que o CIO há muito vem argumentando que é a fraqueza fundamental no coração da eurozona, isto é, a contradição entre uma moeda e 15 governos separados enfrentando condições econômicas conflitantes. Para uma moeda unificada sobreviver deve haver uma política unificada, mas não é isso o que está acontecendo na UE nesta crise. Embora isso possa não ocorrer imediatamente, muitos comentaristas chegaram à mesma posição do CIO, de que há a futura perspectiva da eurozona quebrar ou, pelo menos, alguns países abandonarem-na. O modo pelo qual os governos nacionais podem agir para defender o que eles vêem como seus próprios interesses nacionais capitalistas, foi mostrado no movimento unilateral do governo holandês de nacionalizar aquelas partes do falido banco Benelux, a Fortis, dentro da Holanda, para raiva dos governos belga e luxemburguês.
As medidas urgentes tomadas pelos governos demonstram a flexibilidade do capitalismo quando enfrenta uma ameaça. Cada vez mais os governos rapidamente executaram giros abruptos na tentativa de conter e apagar o incêndio financeiro; assim, vemos antigos governos de “livre mercado” intervindo e nacionalizando. Tanto essa catástrofe em desdobramento quanto as medidas estatais são um golpe à ideologia neoliberal, dominante nas últimas duas décadas. É um golpe ideológico na classe dominante e nos antigos líderes operários “reformistas” que tão entusiasticamente abraçaram o mercado nas décadas passadas.
Contudo, essas várias medidas estatais e as nacionalizações não são de caráter socialista. A idéia de todos os governos tomando esse passo não é para começar o planejamento democrático desses recursos econômicos, mas para tomar medidas de “capitalismo de estado” para sustentar o sistema. Como Hilmar Kopper, antigo chefe do Deutsche Bank, explicou essa semana: “Os bancos com problemas não deveriam receber garantias, deveriam ser nacionalizados… Para os governos isso realmente pode compensar: Eles compram durante a crise e vendem quando a situação melhorar”. Kopper está claramente olhando para o exemplo sueco do início dos anos 90, mas a crise financeira de hoje é diferente e mais difícil de resolver, não é um pequeno país durante um período de crescimento econômico mundial.
Essa crise, junto com a resposta dos governos a ela, fundamentalmente desafiou e minou o argumento de que “Não Há Alternativa” ao “mercado”. O debate sobre o papel econômico do estado e sobre o próprio capitalismo reabriu-se. Os governos americano, europeus e outros simplesmente não serão capazes de voltar atrás e declarar que o mercado deve ser deixado sozinho. Quando outras companhias enfrentar crises, vai surgir inevitavelmente a demanda para o estado entrar em ação para defender os empregos também. O fato de que a culpa por essa crise econômica não poder ser jogada sobre a classe trabalhadora levará a um questionamento do capitalismo e ao interesse na alternativa socialista.
Em face de uma profunda recessão haverá demandas pela ação governamental. Já em alguns países são feitos chamados a medidas de estilo keynesiano de usar o financiamento via déficit para custear um aumento no gasto estatal e salários mais altos para impulsionar as economias. Esses chamados ficarão muito mais altos à medida que a recessão se aprofundar. Os vários bilhões postos para sustentar o setor financeiro e tentar impedir o “derretimento” econômico já estão sendo citados como exemplos a serem seguidos para salvar empregos, habitação, saúde, educação, o meio ambiente, etc.
Face a uma combinação de uma séria crise e pressão popular alguns governos podem tomar medidas para tentar estimular a economia ou mitigar os efeitos da recessão. Tais medidas provavelmente serão inicialmente populares e saudadas com alivio, dada a severidade da crise e o fato de que isso é o que a maioria dos líderes sindicais estão chamando. Mas tais passos, no melhor, terão apenas um efeito limitado. Os descontos de impostos no valor de $165 bilhões de Bush em janeiro não resolveram essa crise econômica dos EUA. Mas há limites sobre quanto “dinheiro” os governos podem “criar” ou imprimir sem arriscarem o aumento da inflação ou da estagflação. Além disso, embora alguma ação simbólica possa ser tomada contra alguns dos super-ricos ou banqueiros, no fim do dia as classes dominantes se esforçarão para assegurar que as classes trabalhadora e média paguem o preço por essa crise que foi obra sua.
Essa crise já tem profundos efeitos. Um sentimento misto de medo e raiva está emergindo. Milhões já perderam seus empregos ou lares por todo o mundo e a maioria da população mundial sofreu enormes aumentos nos preços dos alimentos e combustíveis. Há temor generalizado a respeito dos empregos, habitação, pensões e poupanças.
Nos sindicatos o medo do desemprego pode contribuir para um efeito atordoante temporário, pelo menos nos locais de trabalho. Isso pode ter sido um fato na resposta limitada entre alguns trabalhadores flamengos do setor privado à greve geral belga de 6 de outubro. Mas isso não significa que não raiva nos locais de trabalho, raiva que irá aumentar à medida que se tornar claro que o capitalismo tentará descarregar os custos desta crise sobre a classe trabalhadora e setores da classe média. Alguns patrões já agiram para atacar implacavelmente os salários, condições e empregos, numa tentativa de sobreviver na recessão, como temos visto na Aer Lingus, onde os trabalhadores receberam subitamente um aviso de demissão para um quarto de sua força de trabalho. Se os trabalhadores não se sentirem confiantes de resistir nos locais de trabalho então sua raiva será vista nas eleições e em outras formas de protesto.
Por todo o globo, naturalmente, haverá diferentes situações em cada país. Alguns serão afetados mais ou menos, pela iminente recessão. Mas o que passou foi a idéia de que o “mercado é o melhor”.
Nos antigos países stalinistas, essa será a primeira experiência de uma recessão mundial desde que o capitalismo foi restaurado no início dos anos 90. Alguns países, como os estados bálticos, estão enfrentando uma aterrissagem muito dura. Na Rússia, as recentes altas esperanças de estabilidade econômica e crescimento foram minadas. Trabalhadores da Europa Oriental e Central que se mudarem para o Oeste para achar trabalho acharão lá mais dificuldades e maior pressão para aceitar salários ainda mais baixos. Estas experiências começarão a resultar no questionamento das esperanças e ilusões no capitalismo que se desenvolveram durante o boom.
O desdobramento mais significativo ocorre na China, que viu a criação da maior classe trabalhadora do mundo, uma nova classe trabalhadora que até agora geralmente viu apenas o crescimento econômico, embora freqüentemente com base em baixos salários e implacável exploração. Uma significativa desaceleração da economia chinesa enquanto o mundo entra em recessão poderia produzir efeitos explosivos e o início da criação de um movimento independente dos trabalhadores.
Similarmente, enormes convulsões podem ser vistas em países como Brasil e Índia, que viram um recente crescimento econômico, assim como nos países mais pobres da África, Ásia e América Latina. Os motins de alimentos no início deste ano foram apenas uma amostra dos protestos que eclodirão contra a crescente pobreza e miséria que uma recessão mundial trará.
Mas a situação na Europa, EUA e outros países imperialistas não ficará tranqüila por muito tempo. Mesmo se houver apenas limitadas ações sindicais em alguns países o efeito político será enorme. Os trabalhadores, e setores da classe média, instintivamente culparão os banqueiros, governos e a classe dominante como um todo por essa crise. Esse derretimento financeiro e a recessão produzirão uma efusão de ressentimento e raiva, especialmente porque estão vindo depois de anos de crescente polarização social, super lucros para as empresas e super salários/bônus para os das cúpulas. Haverá crescentes demandas por “resgates” da classe trabalhadora e dos serviços públicos.
Nesta situação é essencial que o movimento dos trabalhadores ofereça uma saída para a classe trabalhadora, os pobres, a juventude e a classe média, atingidas pela crise. Todo o sistema está sendo posto em questão pela natureza traumática desta crise, e os economistas não falam mais de dias “negros” (houve demasiados), talvez logo se fale de “meses negros” ou mesmo de “anos negros”.
Mas na maioria dos países do mundo não há, atualmente, partidos de trabalhadores ou de esquerda oferecendo uma alternativa. A maioria dos antigos partidos social-democratas, socialistas e muitos comunistas tornaram-se partidos totalmente pró-capitalistas, que também perderam suas raízes trabalhadoras, embora alguns trabalhadores ainda votem neles. Isso significa que os capitalistas agora não estão sendo desafiados pela crise que o seu sistema criou.
Essa crise coloca de forma ainda mais aguda na agenda a necessidade da criação de novos partidos de trabalhadores, algo que o CIO geralmente tem advogado há algum tempo.
Tais partidos, junto com os sindicatos, devem apresentar um programa de emergência para proteger os empregos, moradias, padrões de vida, pensões e poupanças dos trabalhadores, e também explicar a alternativa socialista ao capitalismo. O fato de que, nos EUA, o “socialismo” está sendo usado como um insulto contra o plano de resgate de seu próprio governo pelos Republicanos de direita só é possível porque não há um partido socialista desafiando o capitalismo. Mas mesmo essa acusação estúpida reconhece que o socialismo é a alternativa fundamental ao capitalismo.
Mas se o movimento dos trabalhadores não oferece uma alternativa socialista combativa, há o perigo de populistas direitistas, chauvinistas ou religiosos poderem explorar a raiva e desvia-la das conclusões socialistas de desafio ao capitalismo. Na Europa há o alerta do contraste entre a Alemanha, onde o antineoliberal Partido de Esquerda está obtendo 15% das intenções de votos, com a Áustria, onde não há um partido de esquerda, e a extrema direita ganhou mais de 28% na eleição geral de setembro. Mas mesmo eventos como os da Áustria colocarão de forma mais aguda na agenda a construção de uma força dos trabalhadores contra a direita e pelo socialismo.
As perspectivas econômicas exatas são incertas. Não é certo o quanto será profunda a recessão, mas ela será dura e prolongada mesmo se o pior for evitado. A probabilidade será que a “recuperação” será lenta, quase estagnada, não uma repetição do boom dos últimos 15 ou mais anos. Na última semana, Gary Younge, no Guardian de Londres, escreveu que “‘Os capitalistas podem se safar de qualquer crise, contanto que façam os trabalhadores pagar’, disse Lênin. Raramente considera-se um senso comum citá-lo em uma companhia educada. Mas como uma descrição do que está acontecendo agora mesmo, essa é a mais sensata que eu ouvi por muito tempo”. Esse será o cenário para novas lutas de classe contra o pano de fundo do mercado e do capitalismo sendo cada vez mais colocados em questão.