Posição da LSR sobre a candidatura do PSOL para governador do Rio Grande do Norte

Hoje, dia 20 de abril, acontece a Conferência Eleitoral do PSOL no Rio Grande do Norte e é necessário externar publicamente a preocupação que nós da LSR temos com o nome defendido pela corrente majoritária do partido (MES) para candidato a governador para o Rio Grande do Norte, o recém filiado Carlos Alberto Medeiros.

Estamos falando de uma eleição considerada a mais incerta desde 89, em meio a uma grave crise política e econômica no país. O Rio Grande do Norte não fica fora disso, vivenciamos uma extensa greve dos servidores estaduais que resultou no “Fora Robinson”, e toda a população sente cotidianamente o impacto do aumento da violência e a precariedade dos serviços públicos.

A chapa presidencial Guilherme Boulos e Sonia Guajajara traz, a partir dos nomes, algo bastante simbólico: expressa um Partido forjado nas ruas e nas lutas. Em um contexto como o que vivemos, de rejeição à política institucional, o PSOL precisa ter sensibilidade em apresentar nomes que refletem outra forma de fazer política e disposição para se diferenciar da política tradicional.

No Rio Grande do Norte estamos atrasados na definição de um nome e ainda em março as coisas estavam indefinidas. De filiados do PSOL tínhamos a possibilidade de Santino Arruda e Juary Chagas, e, em Mossoró, iniciou-se uma discussão com a professora Telma Gurgel, professora da UERN e militante feminista, também com trajetória no PT.

Ela colocou a sua filiação como intenção de construir um projeto, para além das eleições. Nós da LSR fomos parte de uma articulação para ela ser candidata a governadora, visto que há tempos construímos as lutas conjuntamente e acreditamos ser um perfil de candidatura que refletisse os debates do PSOL nacionalmente e que também trouxesse como tônica um processo de reorganização da esquerda que estamos vivenciando no Brasil. Em reunião realizada na sede do PSOL, inclusive com membros do MÊS, todos ali presentes manifestaram positivamente à iniciativa.

Poucos dias depois, a militância do PSOL, inclusive parte dos membros do diretório estadual, foram surpreendidos por uma notícia na imprensa da filiação de Carlos Alberto Medeiros, empresário e professor da UFRN em Administração, que foi candidato a vice-prefeito em 2012 para a chapa do PT, e que possivelmente seria o candidato a governador do PSOL.

Primeiramente, queremos saudar a iniciativa de Carlos Alberto Medeiros em ingressar ao PSOL, que também reflete esse amplo processo de reorganização da esquerda no Brasil. Esperamos ter oportunidades para debater sobre um balanço do lulopetismo e o que significa construir uma nova alternativa que tire lições profundas desse processo, não só para fins eleitorais como para construção do nosso partido.

No entanto, na nossa compreensão, há uma distinção entre aceitar uma filiação, da qual aceitamos mesmo com essas ressalvas que apresentamos, e acatar que ele seja candidato. Consideramos preocupante que pleiteie um cargo tão importante e de tamanha visibilidade, que exigirá tomar posicionamentos e expressar nosso programa, não apenas por ser recém-filiado – Telma também seria – mas por levar em consideração a sua trajetória e onde se localiza atualmente.

Carlos Alberto não é apenas um empresário, proprietário de restaurantes em shoppings da capital. É um ativista empresarial, havendo sido vice-presidente de uma entidade burguesa, a CDL (Câmara de Dirigente Lojistas). Além disso, como mesmo assume, não esteve engajado nas ruas e nos processos de lutas centrais da classe trabalhadora do último período, inclusive das lutas docentes da UFRN, sua categoria. Este é um perfil que reivindicamos para os nossos candidatos e nossas candidatas, sobretudo nessas eleições.

Não está claro para nós que conclusões exatamente Carlos Alberto tirou da conjuntura e o quanto mudou de posicionamento ao concluir o PSOL como uma alternativa. Não muito tempo atrás, em setembro de 2016, respondeu a uma entrevista para o site nacional do PT:

“A gente tem que evoluir de paradigma e superar essa polarização. Temos de buscar justiça social, um capitalismo que não seja selvagem. Todos os países do mundo adotaram o sistema capitalista, se voltaram para isso, mas deve ser um capitalismo democrático e justo. Não pode ser um capitalismo de lobby, suborno e corrupção. Isso não é um modelo.”

Essa concepção de pacto social, da possibilidade de construir um governo em que todos saem ganhando, é o que vem sendo corretamente denunciada por Boulos, perspectiva ao qual avaliamos ser fundamental nesse Brasil pós-golpe, como lição dos 13 anos de governo do PT.

É preciso entender que o PSOL tem uma responsabilidade na conjuntura, que estende para além das filiadas e filiados, e envolve setores da classe trabalhadora, da juventude, mulheres, LGBTs, negros e negras potiguares que apostaram no PSOL em 2014 e nos colocou em 3º lugar, através do nome de Robério Paulino. A partir de uma campanha com forte referência nas lutas e marcando posição em relação a que lado estamos, obtivemos um dos melhores resultados do PSOL nacionalmente, com 9% dos votos.

Isso se torna um desafio ainda maior hoje, em que a política do “ganha-ganha”, prometido nos primeiros anos do Governo Lula, se mostrou inviável e com um alto custo para nós trabalhadoras, juventude e povo. Por isso, avaliamos a importância de um nome que expresse as lutas, e, dentre os nomes a disposição para a chapa majoritária, reivindicamos para governador o nome de Juary Chagas, assistente social, demitido político da Caixa Econômica Federal e hoje servidor técnico da UFRN. Também reivindicamos Santino Arruda e Telma Gurgel para compor esta chapa.

Para nós, tanto a chapa majoritária, assim como a proporcional, devem ser construídas respeitando uma diversidade de gênero e racial que tenham um perfil combativo, enraizados nas lutas estudantis, sindicais, populares e de gênero. Isso implica também no desafio de apresentar mais candidaturas de mulheres, LGBTs e pessoas negras.

Vamos, sem medo, colocar o PSOL RN a altura do momento histórico em que vivemos!