Coréia do Norte: ditador ameaça ataque nuclear

Mera bravata ou risco real à vida de milhões?

No começo de abril, medo e tensão intensificaram na península coreana e muito além, por razões compreensíveis. Coreia do Norte é um regime semi stalinista de um tipo peculiar e inerentemente instável. O novo “grande líder” – Kim Jon-un – parece ser ainda mais imprevisível de que seu pai, no que se refere às ameaças de utilizar armas nucleares.

Ele vê o Sul da península dividida como uma grande ameaça para seu regime ditatorial – especialmente pelo seu alto padrão de vida e certos elementos básicos de democracia? Ele está tentando demonstrar para outros dentro de sua própria classe dominante, inclusive sua tia e seu tio, que ele é o chefe? Ele está usando a ameaça de ataque nuclear para forçar uma renovação nas negociações internacionais dos “seis” (EUA, China, Coreias do Norte e do Sul, Japão e Rússia)? Ele tem como objetivo a suspensão das sanções internacionais e mais ajuda alimentar para a população faminta da Coreia do Norte?

É provavelmente uma mistura de tudo isso. A situação é realmente aquela em que a qualquer momento uma troca de ataque nuclear pode acontecer – deliberadamente ou por acidente. Isso não pode ser excluído. Isso levaria a um pesadelo humano de morte e destruição, o colapso do regime no Norte e uma grande crise na Coréia do Sul e toda região.

A resposta inicial dos Estados Unidos para as ameaças da Coreia do Norte vem sendo felizmente “gradualmente atenuada”, como diz um analisa da Universidade de Yonsei. Depois de sobrevoar a península com bombardeiros B2, os Estados Unidos adiaram um teste de misseis intercontinentais e parece estar procurando por um “diálogo” em vez de uma “intimidação ativa”.

A nova liderança em Pequim parece ser menos disposto que no passado a dar apoio automático para o regime da Coreia do Norte e suas periódicas bravatas contra imperialismo e o regime da Coreia do Sul. Por outro lado, no Sul, a “trustpolitik” (política de construção de confiança – para a reaproximação entre as Coreias) de seu novo regime de direita significa a aceitação de que a “desnuclearização” não é o único primeiro passo para remover quase a ameaça quase permanente do Norte.

Um fator nos cálculos do regime no Norte deve ser o medo que se eles renderem sua capacidade nuclear, eles irão sofrer um destino semelhante ao dos iraquianos e outros regimes nas mãos do imperialismo.

Hipocrisia

A exigência dos Estados Unidos e da China por total desarmamento nuclear da Coreia do Norte é totalmente hipócrita, já que eles mesmos estão armados até os dentes com armas nucleares, sem nenhuma intenção de se livrar delas. Armamentos nucleares são armas terríveis de destruição em massa. Nenhum regime em sã consciência as usariam, diante da perspectiva de Destruição Mutuamente Assegurada. Eles dizem que são apenas meios de dissuasão.

Mas isso não responde ao argumento que essas armas poderiam ser detonadas por acidente ou por um ato de um chefe de Estado perturbado. No caso da Coreia, a nova instabilidade cresceu como consequência do “reinado” anterior de Kim Jong-il, durante o qual a maioria da população vivia em absoluta pobreza e fome. A ameaça da pressão vinda dos padrões de vida no Sul e a “infecção” de certos direitos democráticos conquistados, e mesmo o acesso a internet – ameaçam o regime no Norte. Daí o exagero por parte Kim Jong-un sobre uma ameaça externa e a necessidade de estar pronto para usar armas nucleares como autodefesa.

Coreia do Norte tem 600 mil soldados próximos da linha de “cessar-fogo”, próximo da capital do Sul, Seoul. Foi feito uma série de ataques, por exemplo em navios da Coreia do Sul, no passado recente e ameaçava lançar um míssil com a capacidade de alcance que levaria tão longe quanto a base americana em Guam.

O apoio da China para Pyongyang vem diminuindo?

Nessa luta por hegemonia na região e internamente, o governo do Partido “Comunista” governante na China não está alheio a fazer marcações militares na região – com Japão, Vietnam e mesmo os Estados Unidos. Mas no seu caminho de restauração do capitalismo, não irá automaticamente ajudar seus vizinhos. O regime na Coreia do Norte não é de forma alguma “comunista”, nem mesmo no nome. Sua ideologia oficial, juche, é uma invenção de sua primeira “liderança” – Kim Il-sung, originalmente um lutador comunista da resistência contra o domínio japonês sobre a Coreia. O pequeno estado, com uma população de cerca de 25 milhões, resultou de uma guerra peninsular devastadora de 1950-53 entre as forças do imperialismo e da China pós-guerra da sob Mao Tse Tung. Isso terminou em um impasse com o norte do estado modelado no regime stalinista da União Soviética e o sul capitalista sob regime militar pró-EUA.

Hoje o fluxo constante de turistas que viajam para olhar através da zona desmilitarizada que divide o país são informados por um guia oficial que os “lobos comunistas” do norte vem ameaçando o Sul democrático por 60 anos. Primeiramente, apesar dos principais bastiões da economia no Norte serem estatais, não há nenhum elemento de democracia para a população massivamente empobrecida e faminta enquanto um poucos na cúpula do governo e do exército usufruem de privilégios e riqueza. Coreia do Norte tem sido usado como um “bicho-papão” contra as ideias do comunismo e socialismo mas é uma distorção grosseira dessas ideias e não há qualquer semelhança com um Estado socialista democrático dos trabalhadores.

Em segundo lugar, no Sul, o imperialismo americano despejou enormes recursos para apoiar ditaduras militares brutais durante mais de 30 anos, incluindo aquela de Park Cheung-he, o pai da nova presidente eleita. Os EUA possuem um grande arsenal de armas e dezenas de milhares de soldados em bases militares na Coreia do Sul. Desde a ameaça de Pyongyang de lançar bombas nucleares em Hollywood (que, até agora, parecem incapazes de fazer de qualquer forma), os EUA tem ameaçado aumentar seu armamento na península – outra razão para China tentar e amenizar a crise. (Em 1994, a administração de Bill Clinton seriamente considerou invadir o Norte, mas recuou pelo custo estimado de 100 bilhões, e um milhão de vítimas.

Capitalismo “Chaebol”

A economia da Coreia do Sul é dominado por um punhado de famílias ricas que controlam conglomerados de empresas ou “Chaebol”. Militantes de sindicatos são constantemente perseguidos e presos por exercerem seus direitos democráticos de organização e de greve. A luta para criar uma voz política independente para a classe trabalhadora na Coreia do Sul se mostra urgente. Por causa do regime monstruoso no Norte em que muitos vem sendo persuadidos a associar falsamente com o socialismo, a tarefa de construir uma força socialista genuína para lutar contra as grandes empresas e bancos no Sul se mantém árdua.

Hoje a grande discrepância nos padrões de vida entre Norte e Sul significa que a maioria no Sul vê o enorme custo de reunificação como despesas suas. Qualquer luta para reunir a península nos interesses da classe trabalhadora precisa ligar a luta contra a ditadura e loucura nuclear do Norte com a luta contra os Chaebol no Sul. A luta pelo socialismo democrático planificado com indústrias, bancos e terras públicos serão as bases para a almejada reunião dos povos da Coreia.