A zona do euro atingida pelas crises da dívida

A severa crise da dívida na Grécia está tendo grandes repercussões na zona do euro, na União Européia (UE) e internacionalmente. Os governos da zona do euro temem diariamente que o contágio se espalhe para além da Grécia, já que várias outras economias foram rotuladas como em risco de problemas possivelmente maiores, incluindo Espanha, Portugal, Irlanda e Grã Bretanha. Embora a Grã Bretanha não esteja na zona do euro, a maioria de seu comércio é com a Europa e assim, está vulnerável ao turbilhão atual. 

A perspectiva imediata da Grécia não pagando suas dívidas parece menos provável agora que os governos europeus e o FMI apresentaram um pacote de resgate de 110 bilhões de euros. Mas a crise foi aguda o suficiente para colocar em questão a sobrevivência da atual zona do euro, e os perigos estão longe de acabar. Um ou mais países podem ainda ser obrigados a abandonar o euro a fim de terem mais espaço para manobrarem economicamente (em particular para desvalorizar sua moeda), um terrível cenário para o capitalismo europeu que mal fora contemplado no triunfalismo da criação do euro. 

Qualquer que seja o resultado eventual, essa crise é um grande retrocesso para as classes dirigentes da Europa. A primeira ministra alemã, Angela Merkel, em nome da classe dominante da Alemanha, primeiro tentou resistir ao resgate da Grécia. Sua abordagem linha dura refletia o medo de que um resgate daria um precedente; Espanha, Portugal e outras economias em dificuldades poderiam então pedir uma ajuda financeira em larga escala. As somas envolvidas seriam astronômicas e vistas como um fardo intolerável pelas classes dominantes dos países europeus em melhores condições. 

De outro lado, o governo alemão tem enfrentado uma enorme pressão das classes trabalhadora e média contra a idéia de usar dinheiro dos contribuintes para resgatar o governo grego e as instituições financeiras multinacionais. Não obstante, Merkel se sentiu obrigado a participar do pacote de resgate, já que as alternativas para o capitalismo alemão pareciam ainda piores. Permitir que a Grécia desse um calote em suas dívidas (o que é inevitável se nada for feito) ou expulsar a Grécia da zona do euro acionaria uma crise política e financeira ainda maior. 

Os bancos franceses e alemães estimam que possuem em torno de 70% da dívida grega, então eles enfrentariam uma enorme desordem e, para alguns, a possível bancarrota. Um calote ou a saída da zona do euro enfraqueceriam a credibilidade global do euro (que já perdeu 13% de seu valor desde novembro) e aumentariam o risco de especulação do mercado contra outros estados da zona do euro carregados de dívidas.

Isso por sua vez aumentaria as taxas de juros e ameaçaria a frágil e incerta recuperação econômica da Europa. Uma crise bancária renovada poderia ser parte e parcela disso. Mas um calote grego ou de outro país ainda pode acontecer apesar do enorme resgate, assim como a saída de um país da zona do euro. 

Ataques aos trabalhadores

Na Alemanha contribuintes no setor financeiro privado têm sido solicitados desesperadamente, para fazer parecer que os trabalhadores alemães não pagarão a maior parte do custo do resgate do capitalismo grego e europeu. O pacote de resgate que tem sido negociado também vem com uma insistência em cortes bárbaros nos padrões de vida dos trabalhadores gregos e flagrantes mentiras e exageros sobre sua aposentadoria atual e outros direitos. 

A decisão de incluir o FMI no resgate à Grécia foi um enorme golpe ao prestígio das classes dominantes da zona do euro. Todas as suas opções eram enormemente problemáticas para elas, o que reflete a profundidade da crise capitalista que enfrentam.

Quando o euro foi introduzido, o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) previu que o projeto iria fracassar em certa etapa, e foi ridicularizado por outros “marxistas” por dizer isso. O CIT pontuou que era uma coisa continuar com ele enquanto o crescimento econômico mundial continuava, mas outra bem diferente quando esse boom chegasse a um fim. 

A crise econômica revelou os obstáculos à integração europeia e a impossibilidade de superar os limites do estado nação e dos interesses da classe dominante de cada país em uma base capitalista. A integração capitalista europeia agora provavelmente alcançou seus limites neste período, com o processo estagnando e até começando a se reverter.

Uma ilustração disso são os agudos antagonismos nacionais entre as classes dominantes da Alemanha e Grécia e também França e outras potências da UE, que vieram à superfície. Todos tentam colocar a culpa em um outro, enquanto todos presidem a crise capitalista que se espalha. Antes da recessão todos eles toleraram ou encorajaram em um grau ou outro a busca quase desenfreada de lucros rápidos dos grandes negócios e das instituições financeiras, não importa a que custo, e ainda fazem isso. 

As pessoas comuns quase não se beneficiaram dos anos do boom que precederam a recessão, e agora lhes dizem que devem pagar pela prodigalidade dos ricos durante esses anos. Os trabalhadores em todos os lugares ouvem que tem que pagar duas vezes mais, embora seus impostos estejam sendo usados para resgatar os Bancos, através de ataques a seus empregos, salários e serviços públicos. 

Já tem havido algumas greves de protesto e manifestações significativas em toda a Europa, apesar de muitos trabalhadores ainda terem a esperança de que os ataques a seus padrões de vida serão de curto prazo e que a situação logo vai melhorar. 

À medida que a crise econômica e suas consequências se arrastem, essa esperança inevitavelmente irá mudar para um sentimento ainda maior de raiva, e vontade de resistir à miséria humana que as classes capitalistas estão procurando impor.