Nem PT, nem PSDB

Rejeitar os dois lados da mesma moeda neoliberal

Construir o PSOL como uma verdadeira alternativa de esquerda

“Se não for com Lula, não será sem ele”. Com esta frase dita em uma entrevista concedida á Revista Fórum de fevereiro, o ex-assessor presidencial Frei Betto definiu o seu posicionamento em relação ao governo Lula.

Apesar de reconhecer que o governo Lula tem sido bom apenas para os banqueiros, Frei Betto afirma que votará novamente em Lula por considerar o retorno dos tucanos com Serra ou Alckmin um retrocesso em virtude da manutenção da política financeira e da retomada das privatizações. Alguns meses atrás, João Pedro Stédile, a principal figura nacional do MST pronunciou frase com conteúdo semelhante.

Emir Sader, outro importante intelectual da esquerda brasileira, tem afirmado em muitos artigos que estão errados aqueles que não conseguem diferenciar o governo Lula de FHC; e que os que saíram do PT acabaram dividindo a esquerda e fortalecendo a direita.

Este posicionamento de figuras importantes da esquerda brasileira, combinado com o bombardeio diário da mídia burguesa, procura passar uma imagem de que uma suposta polarização entre esquerda e direita estaria expressa no duelo eleitoral PT X PSDB/PFL.

Nada mais falso. Após três anos de governo, as burguesias nacional e internacional sabem que caso Lula seja reeleito, seus interesses serão preservados. Lula tem dito de forma insistente que a política econômica e as reformas neoliberais continuarão num segundo mandato.

Apesar das desconfianças de alguns setores da burguesia brasileira, de possíveis medidas intervencionista que poderiam ser tomadas em um provável governo Serra, está claro que a agenda dos tucanos não seria muito diferente do atual governo.

Nenhuma diferença fundamental

Não há, portanto, diferenças fundamentais entre petistas e a aliança conservadora PSDB/PFL, pois ambos têm a mesma política que é neoliberal e de direita.

Nem mesmo a política externa do governo Lula pode ser considerada progressiva. A ocupação do Haiti por tropas brasileiras a mando dos EUA e a manutenção das negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas não deixam dúvidas a esse respeito.

Os sucessivos elogios de Bush ao governo brasileiro deixaram mais evidente que Lula é a pessoa ideal para os EUA e que ele tem a tarefa de utilizar o que resta de sua autoridade política junto aos demais povos da América Latina para moderar as ações e medidas de governos como os de Chavez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia.

Na nossa visão não há, portanto, um mal maior a ser evitado. Seria sim, muito desastroso para os trabalhadores e para o conjunto da esquerda não terem a possibilidade de votar nessas eleições numa alternativa de esquerda que defenda um programa anti-capitalista. A partir dessa leitura, a conquista do registro definitivo do Partido Socialismo e Liberdade (P-SOL) é uma grande vitória da classe trabalhadora.

A provável candidatura de Heloísa Helena pelo P-SOL em unidade com os movimentos sociais e demais partidos no campo dos trabalhadores pode expressar essa alternativa de esquerda e socialista, principalmente, dentro de uma conjuntura de recuperação política do atual governo.

Lula recupera terreno

O estancamento da crise política através do ‘Acordão’, a disputa fratricida entre Serra e Alckmin e a campanha eleitoral governamental fizeram com que Lula recuperasse pontos importantes nas pesquisas eleitorais, a ponto de ser colocado novamente como favorito para as eleições de outubro: ganharia tanto no primeiro como no segundo turno. Interferiu nesse resultado, o anúncio do novo (miserável) salário mínimo, a correção na tabela do imposto de renda e a ampliação do Bolsa-Família para 9 milhões de famílias.

Apesar dessas migalhas em ano eleitoral, temos que lembrar aos que ainda têm ilusão em Lula, que o atual governo é o mesmo que atacou a aposentadoria dos trabalhadores através da Reforma da Previdência, aprovou o Projeto de Parceria Público-Privados (PPPs) que possibilita a privatização e transferência de recursos públicos para o setor privado e que vem garantido o espetáculo do crescimento dos lucros dos banqueiros, já que a economia cresceu apenas 2,3% em 2005, ficando bem abaixo da média mundial e da América Latina. Só nos últimos três anos, o governo federal pagou em média mais de 150 bilhões de reais em juros e amortizações das dívidas interna e externa.

Para o segundo mandato, além de continuar com essas medidas, como já foi dito anteriormente, Lula tentará realizar uma segunda onda de contra-reformas neoliberais como uma segunda previdenciária, e as sindical e trabalhista.

Frente de luta

Está claro que diante deste cenário é fundamental que os movimentos sociais, os lutadores socialistas e os partidos operários através de uma frente social e política de luta, construam uma alternativa de oposição de esquerda para as eleições.

Defendemos que a candidatura presidencial de Heloísa Helena apresente uma plataforma anti-capitalista que inclua o salário mínimo do Dieese para todos os trabalhadores, a redução da jornada de trabalho, uma reforma agrária radical sobre controle dos trabalhadores, o não pagamento das dívidas e a ruptura com o FMI, a estatização das empresas que foram privatizadas, dos bancos e dos grandes grupos econômicos para que seja possível promover o desenvolvimento econômico e social rompendo com a lógica capitalista, a servidão colonial e o neoliberalismo.