A inflação e o preço de um sistema perverso 

“O Brasil foi um dos países que menos subiu o preço das coisas”, disse Bolsonaro recentemente, mostrando como longe ele é da realidade do povo, que sofre com o aumento dos preços de alimentos, da luz e combustíveis, que aumenta a fome e o desespero da população. O governo não tomou nenhuma medida para aliviar o aumento dos preços, pelo contrário, desmontou medidas anteriores e fala em privatizar mais ainda, o que aumentará os preços. Mas há quem lucre com isso: agronegócio, bancos e acionistas. São a estes que esse desgoverno serve.

O fato que milhões passam fome num país que é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo mostra como esse sistema é perverso e precisa ser derrubado junto com Bolsonaro.

Os dados do IBGE confirmam como os preços dispararam no último período. No acumulado de 12 meses até abril deste ano, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve avanço de 12,1%. É a maior inflação desde outubro de 2003. O aumento em março do IPCA foi a maior alta para o mês desde 1994.

Desmentindo Bolsonaro, os dados mostram que a inflação no Brasil em abril estava entre as três maiores nas Américas, atrás apenas de Venezuela e Argentina. No G20 (grupo com 20 grandes países) o Brasil está em quarto lugar, após Turquia, Argentina e Rússia.

O aumento do preço dos alimentos tem sido o mais marcante. Na lista dos dez itens com maiores aumentos nos 12 meses até abril, oito são alimentos. No topo da lista está a cenoura, que quase triplicou de preço (178%), seguido pelo tomate e abobrinha, que dobraram de preço (ambas com 103%).

O botijão de gás está chegando a 160 reais em algumas regiões, levando a um aumento dramático de pessoas que se queimam ao tentar usar outros combustíveis, como álcool. O aumento do preço da gasolina, gás veicular, álcool e diesel, tem afetado o preço do transporte em geral, impulsionando o preço de todas as mercadorias. O preço do transporte por aplicativo subiu 67% no último ano.

O aumento da conta de luz deve se agravar esse ano. Segundo os cálculos do TR Soluções, o preço da conta de luz deve subir em 12% no país, com os maiores aumentos no Nordeste (17%). O Ceará lidera esse ranking, com aumento de 24%!

Fenômeno mundial

O aumento da inflação tem sido um fenômeno mundial, afetando também os EUA e União Europeia, que passaram por um período de décadas de inflação baixa. Nos EUA, a inflação atingiu 8,5% em março, a mais alta desde 1981. A Grã Bretanha registrou uma inflação de 9%, a mais alta em 40 anos.

Há uma combinação de fatores por trás disso. A pandemia afetou as cadeias produtivas globais, que ainda não se estabilizaram.

Além disso, a invasão da Rússia na Ucrânia teve um forte impacto no preço dos alimentos e combustíveis. Segundo o Banco Mundial, a guerra está levando ao “maior choque de preços de commodities” desde os anos 70. A Rússia é um grande exportador de gás e petróleo e o preço de energia deve subir mais de 50% no mundo.

O índice de preços de alimentos da ONU está no nível mais alto em 60 anos, quando começou a ser registrado. Rússia e Ucrânia são responsáveis por 30% das exportações de trigo e 60% do óleo de girassol no mundo.

O avanço das mudanças climáticas também tem sido um fator que tem afetado a produção de alimentos em muitos lugares, incluindo o Brasil, e elevado o preço dos alimentos.

Um outro fator mais estrutural é a tendência de reversão da globalização, que baixou os preços de muitas mercadorias durante um período, com produtos baratos da China dominando os mercados. Agora, vemos ao invés uma nova guerra fria, com uma tendência de “desacoplamento” das grandes economias e divisão em blocos. A guerra da Ucrânia é uma expressão desse aumento de conflito entre dois grandes blocos imperialistas, com EUA de um lado e China (com Rússia como um de seus aliados) do outro.

Protestos contra aumentos dos preços mundialmente

O aumento dos preços foi um elemento chave por trás da Primavera Árabe em 2011 e na derrubada da ditadura do Sudão em 2019 e agora vemos novamente o mesmo fator levando a uma explosão de protestos nos últimos meses em vários países. Os protestos, com características revolucionárias, derrubaram recentemente o governo do Sri Lanka. O primeiro-ministro do Paquistão também perdeu o cargo. Protestos ocorreram também no Peru, Indonésia, Iraque, Irã e outros países. No dia em que a Argentina registrou a maior inflação dos últimos 30 anos, de 58%, manifestantes encheram a praça de Maio em Buenos Aires. 

Desgoverno local

Esse aumento de preços em nível mundial é um reflexo de um sistema doente e em crise. Mas a situação se agrava no Brasil com o desgoverno de Bolsonaro.

Várias das medidas neoliberais têm reduzido a capacidade do Estado amenizar o aumento dos preços. O governo Bolsonaro tem desmontado em grande parte a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que mantinha reservas de grãos que em situação de quebra nas lavouras poderiam ser vendidos a preços reduzidos. Em 2019, o governo fechou 27 armazéns da Conab. Em 2012, o país tinha mais de 1,7 milhão de toneladas de arroz estocado, desde então foi caindo. Em abril de 2022, o estoque estava totalmente zerado! 

O agronegócio, que tem sido prioridade em todos os governos desde os anos 90, incluindo do PT, tem se beneficiado com essa situação. Com o aumento dos preços internacionalmente e o dólar valorizado, o agronegócio consegue lucrar mais vendendo para o mercado externo, desabastecendo o mercado nacional e provocando o aumento de preços.

A concentração de terras continua enorme: 1% dos proprietários possuem 47% das terras de lavouras e pastos no Brasil! São esses que produzem principalmente para exportação. Os produtores que têm menos de 10 ha, que são metade de todos os estabelecimentos rurais do país, possuem pouco mais de 2% das terras. Aí se encontra a agricultura familiar que produz a maioria dos alimentos da mesa dos brasileiros.

Privatizar aumenta os preços

O aumento dos preços de combustíveis tem aumentado a pressão da base do governo Bolsonaro. A recente mudança de ministro de Minas e Energia, para Adolfo Sachsida, é a terceira troca no governo após reajustes nos preços dos combustíveis. 

O problema é que Bolsonaro não mexe na política de preços da Petrobras, que desde o governo Temer segue os preços do mercado mundial, em paridade com o dólar. Com o aumento dos preços, a Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2022 com lucro de R$ 44,5 bilhões. É o terceiro maior já registrado no Brasil. A estatal também anunciou a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos a seus acionistas, muitos deles no exterior. A solução apresentada por Sashsida, de privatizar a Petrobras, só agravaria o problema, já que tiraria qualquer caráter social da empresa. O mesmo vale para a Eletrobras e os preços de energia.

Luta por salário, reforma agrária e contra o sistema

Todos os fatores por trás do aumento dos preços têm a mesma origem: um sistema que coloca o lucro acima da vida e do planeta. Será necessário lutar em muitas frentes: greves por aumento do salário, luta por controle dos preços e contra as privatizações, ocupações e luta por reforma agrária, a luta contra a destruição das florestas e rios e muitas outras. Mas para serem vitoriosas, essas lutas têm que ser unificadas numa luta contra o sistema capitalista, por uma economia socialista e democraticamente planificada, onde a produção seja destinada a satisfazer as necessidades sociais do povo trabalhador e em harmonia com a natureza, não pela destruição e lucro para poucos.

  • Por sindicatos democráticos e combativos para lutar por aumento dos salários. 
  • Imediato reajuste do salário mínimo, rumo ao salário mínimo do DIEESE.
  • Controle dos preços dos alimentos! 
  • Controle dos preços de gás, luz e combustíveis. Ampliação das tarifas sociais para luz, água, e outros serviços públicos!
  • Planejamento na produção e estocamento dos produtos alimentares, para que não fiquem à mercê dos mercados!
  • Reforma agrária radical sob controle dos trabalhadores! Expropriação do latifúndio e do agronegócio!
  • Contra a privatização da Petrobras e Eletrobras. Empresas e serviços públicos para servir a população, não ao lucro!

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